quarta-feira, 30 de novembro de 2005

AutoPsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que ele não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Este comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa / 32